Durante um bom período da história, dedicar-se à busca por remédios que curariam todas as doenças do ser humano, combinando elementos químicos e ciências físicas, era estar muito próximo daqueles que buscavam encontrar, através da combinação de metais inferiores, a obtenção de ouro.
Os alquimistas modernos ainda buscam tal remédio. A contra-medida para as mazelas do corpo e do espírito ainda não foi encontrada, mas, ao longo da evolução dos nossos conhecimentos, estimulantes paliativos foram descobertos e ofertados para melhorar o cotidiano, e, de certa forma, frear o desgaste da mente.
Combustíveis para a alma, o café e a gasolina viciam e despertam o raciocínio humano que, dependente dos seus prazeres, cria engenhosas máquinas para fazer seu uso e otimizar os seus efeitos. Relação estequiométrica, física aplicada, alquimia pura. Duas “engenhocas do vício” fizeram, e seguem fazendo, a alegria do entusiasta dependente. A cafeteira e o carburador tem lá as suas semelhanças.
O consumo da cafeína remonta ao século IX.Desde que o pastor Kaldi observou que suas cabras ficavam mais espertas após comer folhas e frutos de um cafeeiro, pessoas vêm fazendo uso do grão, torrado pela primeira vez na Pérsia do século XVI.
O cultivo e a comercialização dos grãos movimentaram a economia mundial, criaram disputas pela posse de colônias produtoras e de rotas de navegação; geraram riquezas e conflitos. E para que, nos dias de hoje, o homem faça uso de forma prática do produto já industrializado, ocorreram avanços, assim como a criação de um genial invento.
No século XVI os persas consumiam café por infusão. Jogavam água fervendo em uma xícara onde descansava o grão moído, esperavam a mistura acontecer e bebiam o forte e impuro líquido. No final do século XVIII, o farmacêutico francês François Antoine Descroisilles inventou o que hoje chamamos cafeteira. De forma rudimentar, ela consistia de dois recipientes colocados um sobre o outro e separados por um filtro. Este invento foi aperfeiçoado por outro francês, Antoine Cadet de Vaux, que melhorou os materiais utilizados no processo, criando a cafeteira de porcelana em 1806.
A cafeteira moderna, evolução das surgidas no século XVIII, é uma simples combinação de fenômenos. A água é aquecida em um compartimento, por meio de uma resistência elétrica. Ao ferver, bolhas são criadas e empurram a água para cima do mecanismo, através de um pequeno tubo. O tubo despeja, em forma de pingos, água quente sobre o pó do café, e o líquido resultante, filtrado, é consumido.
Assim, fazemos uso de forma controlada da droga que possui fatores medicinais e que, em até 20 minutos após o seu consumo, acelera o raciocínio por meio da dopamina. Cafeína é combustível.
A comercialização em larga escala da gasolina chegou junto do aperfeiçoamento do motor de combustão interna, mas, o uso dos derivados de petróleo, ocorre desde 4000 a.C. Na Mesopotâmia, Egito, Pérsia e Judéia o betume era utilizado para pavimentar estradas, calafetar construções e no aquecimento e iluminação das casas.
A extração do petróleo, por meio de poços, aparece com os chineses e árabes, utilizando o produto, entre outras coisas, para fins bélicos. O surgimento da indústria petrolífera, na metade do século XIX, trouxe o crescimento do uso dos seus derivados e a conseqüente valorização de cada barril de petróleo produzido. O domínio das regiões abundantes do chamado “ouro negro” passou a ser, também, fonte de riqueza e de conflitos. Paralelo a tudo, a crescente popularização dos veículos impulsionados pelos motores de combustão interna tornou o homem dependente de um combustível fóssil obtido da destilação fracionada do petróleo, feita entre 40 e 200 °C, a gasolina.
Para regular a mistura ar/combustível, que cria as explosões e alimenta o motor daqueles que vieram para substituir os cavalos, o homem criou uma genial engenhoca, que ajudou a popularizar o automóvel. O carburador.
O carburador foi inventado em 1883, pelos cientistas húngaros Donát Bánki e János Csonka. Os primeiros consistiam de um tubo que ia da cuba de combustível até a câmara do pistão, cortado por uma borboleta que coletava ar, regulando a mistura e o conseqüente número de rotações por minuto.
Durante a sua evolução, eles mudaram da forma de latas para os complexos corpos Quadrijet. Sua função, porém, sempre foi manter a relação estequiométrica ideal, independente da exigência de aceleração. Para isso, o combustível é sugado por uma série de tubos, onde, por meios de passagens calibradas de ar, é feita a mistura ar-combustível a ser jogada na câmara de combustão. O principio não mudou, o que evoluiu foi a tecnologia embarcada junto dele. Os simples, mas sensíveis carburadores mecânicos foram aperfeiçoados para carburadores eletrônicos, e hoje quase que completamente substituídos pela injeção eletrônica de combustível.
Através deles, fazemos uso de forma controlada, de acordo com o comando dado no acelerador, do impulso e da velocidade transferida aos nossos veículos. O movimento é, então, obtido pela explosão do combustível fóssil na câmara de combustão dos nossos motores. Gasolina é estimulante.
Causa e conseqüência, alquimia pura. Nos dois processos, formas ou matérias são transformadas em outras, alterando as proporções dos elementos através dos processos de destilação, combustão, aquecimento e evaporação. O produto final é, então, utilizado por pessoas em busca de prazer, desligamento, estímulo, energia e inspiração.
Tome um café, pegue a estrada.
Bibliografia que utilizei para fazer este post:
http://pt.wikipedia.org.br/
http://casa.hsw.uol.com.br/cafeteiras.htm
http://www.webmotors.com.br/
P.s.: A foto do carburador solex, limpinho, imponente, tinindo de novo, é o do meu Fusca 1969, também estimulante e combustível.
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