Atualmente tem sido um tanto enfadonho assistir algumas corridas em pistas que não favorecem em nada as ultrapassagens, transformando às duas horas na frente da televisão numa entediante contemplação de uma fila indiana de carros que se ultrapassam apenas em paradas nos boxes, quebras ou erros de pilotos provavelmente tão entediados quanto você. Contra tudo isso chega um pacote de novas regras para 2010, mas em determinadas pistas simplesmente não há o que fazer.
Tenho como um dos meus passatempos garimpar vídeos da F1 antiga – principalmente da década de 60 – no youtube e espero sempre encontrar um novo nos blogs que acompanho. Sempre é uma aula de destreza e bravura ver os velozes e temerários ‘’charutinhos’’ cortando retas estreitas, jogando suas traseiras em curvas cegas e enfrentando os aclives e declives em estradas com árvores, animais, pessoas e tudo mais que poderia causar uma tragédia nos seus arredores; infelizmente elas aconteciam.
Neste passeio via streaming por uma época que já não existe mais conheci algumas pistas que me tiraram o fôlego: Spa, a maluca AVUS, Rouen, Zolder com suas subidas e descidas,o traçado antigo de Interlagos, Laguna Seca que felizmente sobrevive….mas nenhuma me despertou tanta curiosidade quanto o antigo traçado misto com oval de Monza e os mais de 20 km de desafios em Nurburgring-Nordschleife.
Uma pista veloz ligada a um circuito oval com curvas inclinadas em 35 graus é o sonho de qualquer adolescente jogador de Gran Turismo, mas nas décadas de 50 e 60 a formatação para altíssimas velocidades da pista devia causar calafrios em quem enfrentava o asfalto do templo italiano da velocidade. Durante o filme Grand Prix é possível se ter a real sensação de como era desafiante a transição do plano reto para o inclinado e confusa a passagem pela reta principal que não tinha divisão e abrigava seis pistas (hoje ficam os boxes nas três internas).
Esses elementos formavam um cenário de sonho, inimaginável nos dias hoje. Infelizmente a parte oval foi desativada por questões ambientais, mas suas ruínas estão preservadas e são muito visitadas. Lá, como aqui em Interlagos existe uma corrente que tenta a restauração do traçado antigo, infelizmente algo praticamente inviável.
Eu penso como deve ser manter um ritmo forte e constante num circuito imenso e repleto de desafios. Concluo que Jackie Stewart foi um escocês iluminado. Esse camarada sabia como poucos memorizar o traçado e se manter rápido sobre ele. Composta de muitas curvas (172 para ser mais preciso), saltos e até cotovelos inclinados apelidados de carrosséis, o inferno verde foi o maior desafio imposto aos pilotos da Fórmula 1.
Devido às dificuldades de socorro aos acidentados e as transmissões para televisão, a corrida foi transferida para um circuito convencional, mas as desafiadoras curvas dos vales germânicos podem ser desbravadas em track days, onde o tráfego é interrompido e um pouco desta época revivida.
A evolução e os aprimoramentos moldam as coisas para os padrões de seu tempo, mas nunca conseguirão retirar o saudosismo de quem viveu ou gostaria de ter vivido a época de ouro da Fórmula 1. Ou alguém prefere a cena abaixo?
Belo post. De facto, Monza e Nurburgring são dois traçados que eram absolutamente desafiantes. O primeiro pela sua velocidade, o segundo pela distância e pela quantidade de curvas. Stewart não chamou de “Inferno Verde” por nada: só os dotados é que memorizavam todas as curvas do circuito.
De facto, o passado é diferente do presente. Largou-se o Nordschleife por ser demasiado perigoso, e Monza abdicou do Anel Externo para correr no circuito. Colocou três chicanes, mas a sua essência continua. É como Spa-Francochamps, apesar de ter ficado reduzido dos 14 km para os quase 7 mil metros. Mas a essência está lá.
O resto? Tem a ver com os carros. Se calhar tem de se redesenhar radicamente esses carros no sentido de facilitar as ultrapassagens. Acho que a Lola está a planear um carro sem asas para a Indy…
Não posso fazer nenhum comentário a respeito das pistas antigas, pq não tenho o mínimo gabarito exigido pra tal tarefa, mas essa pista inclinada devia ser uma loucura espetacular, fiquei encantada!
Se possível, divida com os pobres mortais visitantes do blog esses seus vídeos de antigamente, mesmo que em suaves prestações!
Valeu Pry! Não sou também nenhum especialista, só um fã que gosta de escrever, e colocarei vídeos do youtube sim, aos poucos pego a mão. Não sei ainda usar os recursos desse blog!
Caro Rafael,
Sou um grande fã de automobilismo, especialmente por F-1, e estou contigo quanto aos antigos circuitos em suas grandes extensões. Acompanho a F-1 e Nürburgring é uma das coisas mais espetaculares que eu já vi.
Já estive lá, assim como em Monza. Em Nürburgring (ou Nordschleife, como os alemães o chamam, porque a maior parte fica no norte da região, enquanto a parte sul, onde está o atual circuito, é chamada de Südschleife), você pode pagar (um total de 110 euros, incluindo os pedágios da pista!) e dar uma volta num carro-esporte, acompanhado de um assistente no antigo circuito.
Curiosamente, você não pode entrar no novo traçado, apesar da reta de largada ser comum aos dois circuitos, embora a entrada “oficial” do novo seja na antiga curva em cotovelo logo após os boxes. Na reta, se avista, à direita, um morro onde há o famoso castelo da cidade.
Para ir à cidade de Nürburg, só de carro, mas pode-se viajar de avião até Colônia (é melhor) ou a Frankfurt (mais distante). É pertinho de uma cidade chamada Adenau.
Na década de 1970, nem todas as corridas eram transmitidas pela TV (não se sei qual o motivo, mas a Rede Globo já então era a detentora dos direitos televisivos) e para aquelas não transmitidas eu escutava pelo rádio. Nunca assisti uma transmissão de TV da corrida do antigo Nürburgring. A não transmissão pela TV até se justificava, pois é inimaginável pensar em posicionar tantas câmeras num circuito daquele tamanho, com quase 23 km, entre subidas e descidas. Em geral, é comum se ver em vídeos antigos a filmagem por helicóptero.
Sem nenhuma dúvida, na antiga F-1, Nürburgring, apesar de não ser o mais rápido, era o mais estranho, o mais difícil e o mais desafiador (este era o desejo dos alemães). Para se ter uma idéia, a volta durava mais de 7 minutos e a corrida tinha somente 14 volta. Era um grande desafio, num circuito montanhoso, que aproveitava estradas entre vários vilarejos na região da Floresta Negra (a mesma onde está o antigo Hockenheim). Sobe-se até um lugar chamado Ex-Muhle e aí começa a descida, o maior desafio, com inúmeras curvas rápidas em declive, dentre as quais a Karrussell, uma curva que mescla asfalto e concreto, sem nenhuma referência para tangenciar.
Em 2009, estive em Monza e um cara da administração do autódromo de deixou dar duas voltas no lendário circuito, localizado dentro de um parque florestal muito lindo. A curva parabólica ainda tem por trás dela a junção do anel de alta velocidade.
Na reta, não há mais aquela enorme largura de antes, que juntava as pistas interna e a do anel de alta velocidade. Isto se deve ao acidente de 1978, que vitimou Ronnie Peterson, pois na reta afunilava e juntava os carros numa chicane.
Parte dessa largura ou foi aproveitada como pista dos boxes ou como aumento da área das arquibancadas frontais à reta. Mas o anel é ainda utilizado sim, segundo a pessoa da administração do autódromo. É usado em provas de carros esporte no campeonato italiano. No entanto, o piso está em estado lastimável e em muitos trechos coberto de mato e árvores.
Mas as duas pistas são um grande barato. Falta ir a Spa-Francorchamps, que eu quero muito conhecer.
Ricardo Velloso, muito obrigado pelo comentário que deixou. Aprendi muito lendo e invejei um bocado as tuas visitas nestes dois lugares. Eu tenho um tendência sacana de achar que as coisas eram mais interessantes 20 anos para trás no tempo. Mas, quanto as coisas da F1, isso é certeza. O que não diminui meu gosto por essa categoria.
Grande abraço, quando for a Spa, convide.
A F-1 era muito melhor, com certeza. Menos cartolas chatos, mais pilotos arrojados e corajosos. Onde tem cartola f…
Mas volta e meia aparece um Perez, Koba ou Kubica para animar!!! Vamo que vamo, Lucio