No período de férias em que estive na capital paulista, um cronograma planejado pelo Victor Martins, irmão rico da família, incluía uma série de locais que eu gostaria de conhecer. E realmente, mesmo que da janela do carro e de passagem, estive em mais lugares da cidade do que muitos paulistas. Durante o pouco mais de uma semana que por lá andei, o único compromisso com hora marcada era estar presente na etapa da Classic Cup que ocorreria em Interlagos, dia 06/03.
Quando comecei a acompanhar corridas de Fórmula 1 com meu pai, elas ainda aconteciam em Jacarepaguá. Somente no final da década de 80, quando a prefeitura do Rio não teve dinheiro para bancar as exigências da FIA, o circuito de Interlagos, o mais tradicional do nosso automobilismo, retomou seu espaço, voltando a receber a etapa brasileira da categoria.
Idealizado nos anos 20, o circuito de Interlagos estaria entre uma série de projetos esportivos propostos pelo engenheiro Luiz Romero Sanson. Estádio, pista atlética, quadras esportivas e um local para a prática do iatismo também estavam planejados para a região próxima as represas de Guarapiranga e Billings.
Com o crash de 1929 em NY e as atividades políticas no nosso país, os planos foram todos postergados e o autódromo foi inaugurado apenas em 1940, após acidentes com vítimas em provas nas ruas da capital.
Por 20 anos Interlagos foi um belo traçado mal asfaltado numa região afastada, palco de corridas com carros de Gran Prix da época, sem nenhuma infra-estrutura para competidores, expectadores e jornalistas. Apenas com a consolidação das Mil Milhas, que se iniciaram em 1956, através dos esforços de Wilson Fittipaldi, pai de Emerson, e que transformaram a pista no palco da prova mais tradicional do nosso automobilismo, que as condições de trabalho, segurança, circulação e bem estar foram sendo melhoradas.
Eu sabia bem o que iria conhecer naquele dia. Uma pista cheia de histórias, tratada como templo, que desde 1956 sofria melhorias, mas que teve uma polêmica reforma em 1989, descaracterizando o festejado traçado antigo, que foi então abandonado, mas mesmo assim, segue sendo o templo.
Acordei cedo, chuva e céu cinza fizeram companhia até o metrô. Eu e Victor rumamos à Vila Madalena, onde nos aguardava o Rodrigo Lombardi. Amigo que apareceu do nada uns meses antes, coisas dessas redes sociais, mas que ganhou o meu respeito e a minha confiança. Alguns dias antes eu havia conhecido a sua oficina, na Rua dos Macunis n˚ 500, no belo Alto de Pinheiros. Negócio levantado e mantido com suor, bem estruturado, gente honesta e batalhadora combina com serviço caprichado, logo, a oficina estava cheia.
Rodrigo foi presidente do Clube do Maverick, o segundo melhor carro de tração traseira feito nessas terras, do qual ele possui um lindo. Eu e Victor nos abancamos, entretanto, no seu carro menos famoso, um belo Laguna, que nos levou até o autódromo.
No caminho conheci o atual presidente do clube, Rogério Moreno, com seu belo Maverick à Eleanor, cheio de vocação para o estrelato. A chuva já não caia com a mesma força e a chegada no Autódromo era questão de tempo.
Ainda em Porto Alegre,eu ficava imaginando, dentro da minha ingenuidade, o que gostaria de fazer quando dentro do circuito. Pensava em caminhar pelo traçado antigo, bater fotos, ver o quão abandonado ele anda. Bem, entramos e logo me vi na saída da antiga Curva do Sol, descemos pelo asfalto abandonado e estacionamos na antiga Curva do Sargento. Eu pisava agora feliz no miolo antigo de Interlagos.
Lugar bonito, de lá, enquanto carros treinavam e o segurança ainda não havia nos pedido para sair da pista, escutava do Lombardi uma descrição de cada local, onde ficavam os lagos que guardam blocos fossilizados de motores dois tempos, onde terminava o retão antigo que torcedores de certos pilotos colocavam tábuas com pregos para furar pneus de outros, a Curva da Ferradura, abaixo da beira do barranco do Pinheirinho. Muita informação, eu precisaria de uma manhã inteira para gravar tudo; logo a chuva apertava, o segurança chegava, e rumávamos para os boxes.
Lá eu revi e cumprimentei o Flavio Gomes, jornalista gente boa, de personalidade forte e belos textos. Filei uma pizza dele dias antes, belo destino ele deu para essa parte de seu capital soviético, na companhia também da Evelyn e do Victor, que são da equipe do site Grande Prêmio; mais ouvi do que falei qualquer coisa, estava ali para aprender.
Conheci também o Saloma, blogueiro que tenho nos favoritos desde muito e que passei a admirar mais ainda quando vi uma entrevista em que ele, do banco do carona de um carro, contava os motivos pelos quais tinha iniciado o seu blog, de certa forma, os meus são parecidos. Ele me foi apresentado pouco após o Flavio bater o seu Lada de corrida na entrada do “S” do Senna, que então descansava ao lado de uma reluzente Ferrari de rua, logo, o clima estava bem descontraído.
Caminhando pela área dos boxes conheci alguns até então amigos virtuais, entre eles, o único Du Cardim, gente finíssima que conhece meio mundo, a Karol e a Tatiane, gurias que sabem tudo de automobilismo, a Jackie Della Barba, ”chefe” de equipe da Classic Cup, além do fotógrafo e companheiro Dyonisio Pierotti.
Andei sem pressa pelos boxes, tentando ver tudo que podia. Os carros da Classic Cup são muito bonitos, bem como os v8 da Clássicos de Força Livre. Eles vinham do treino livre e eram agora preparados para a largada. Uns apenas ganhavam um trato na pintura, outros, melhorias no acerto, e eu caminhando enxerido no meio daquilo tudo.
E como se tudo aquilo já não bastasse, a influência do clube do Maverick me colocou no Carro Madrinha da Etapa da Clássicos de Força Livre. A bordo do lindo carro do Silvério Ortiz, que já fez até ensaio fotográfico para a Garagem do Bellote, acompanhado do Victor e da Tati.
Junto como madrinha, o Maverick do Rogério Moreno, levando a Karol. Quando disse que o Maverick à Eleanor tinha fama para o estrelato, não estava brincando. Durante a volta de apresentação, na minha frente, por pura graça controlada na segunda perna do “S” do Senna, Rogério manda a traseira de seu carro lamber o muro, pura manipulação de massas, os expectadores agora sabiam quem era o presidente, e qual o seu veículo.
O traçado atual de Interlagos é curto, a volta passa voando. Mas as subidas, descidas, curvas cegas e partes de alta me fizeram o turista mais feliz daquele domingo em São Paulo. Muitos agradecimentos ao Victor e ao Rodrigo que fizeram essas férias acontecerem, e aos amigos que trouxe na bagagem para Porto Alegre e que espero não demorar a reencontrar.
Vídeo filmado pelo carro que eu estava: http://www.twitvid.com/35E08
Oie! Amei o texto! Sem dúvida aquele dia marcou história na minha vida também haha não é todo dia que se roda no S do Senna, né? Foi muito bom, me diverti horrores aquele dia.
Beijo
Finalmente volto ao seu blog, depois de um tempo “away” por causa da falta de tempo. Texto fantástico, como sempre. Não nego que como boa carioca que sou, sinto uma baita inveja dos paulistas pelo fato de terem um calendário automobilístico bem mais atrativo que o nosso. Não preciso dizer que ver a F1 seria um sonho atualmente impossível. Também acompanho a Classic Cup por causa do Flavio, que pra mim é “o cara” quando se trata de automobilismo – dentre vários outros assuntos. Mas também admito que ir a Interlagos deve ser um passeio emocionante e fico feliz que vc tenha ido e divida esses momentos e comentários conosco, visitantes do seu blog.
Bjo, querido!
Texto fantastico. Parabéns.
Karol, Pry e Dyonísio, valeu! Espero não demorar a voltar, ou mesmo conhecer outros “sítios” como Interlagos, ai os relatos sempre existirão.
Rafa…é como falei qdo nos encontramos na pista…!tá aí o cara!…legal conhecer o amigo que deixou de ser virtual. E fiquei surpreendido de saber que vc viu a materia comigo sobre o inicio de tudo. Muito legal…abs
É isso aí Rafael. Mais um ótimo texto. E Interlagos merece.