Rubens Barrichello tem seu nome presente em aproximadamente 29% de toda a história da Fórmula 1. Nestes últimos 17 anos, o piloto brasileiro vem agregando, junto de seus tantos quilômetros rodados, vivências em quase todas as direções possíveis dentro do peculiar mundo que é o do “paddock” da categoria máxima, e tudo o que o rodeia.
De jovem promissor a um experiente desenvolvedor de carros; de postulante ao título dentro da escuderia melhor estruturada a um triste piloto em fim de carreira, acampado em seu motor-home ao lado da fugida Honda, Rubens atingiu, no Grande Prêmio da Europa de 2010, dirigindo a tradicional Williams, a importante marca de quarto piloto com mais pontos acumulados ao longo de uma carreira. Com 626 conquistados, ultrapassou Senna. Ele é, também, o maior em número de temporadas, tendo 17 delas na sua conta.
O paulista teve uma formação notável durante os anos 80. Completando bem cada degrau da sua escada particular, foi desenvolvendo-se e chamando a atenção da imprensa, então empolgada com os sucessos de Piquet e Senna. Barrichello também atraiu patrocinadores fortes, como a Arisco, e, o aporte financeiro, somado com a sua grande qualidade como piloto, o levaram a correr, e vencer, no automobilismo europeu.
Após os cinco títulos brasileiros de kart, Rubens migrou para a Fórmula Ford. Em 1989 fez uma temporada de adaptação aos monopostos e já embarcou para a Europa, onde seria campeão na Fórmula Opel em 1990, e na Fórmula 3 inglesa, em 1991.
Em 1993 Rubens chegava na Fórmula 1. Com 20 anos e uma enorme expectativa gerada, fruto dos vitoriosos anos de formação. Entrou pela porta da simpática equipe Jordan Hart, que estava então numa crescente.
Posso dizer que acompanhei toda a carreira de Barrichello. Ainda novo, me deparava com muitas reportagens sobre o “novo fenômeno brasileiro das pistas” nas páginas finais da revista Quatro Rodas. Nos anos 80 era possível interar-se de muita coisa do cenário do automobilismo nacional nas últimas páginas daquela revista, e, ali, Ruben era sempre figura carimbada. Assim como em comerciais de televisão e em anúncios impressos.
Uma lembrança que tenho, por exemplo, é a imagem dele entrando na oficina da Jordan com um salame escondido sob a roupa, para sacanear o brincalhão companheiro de equipe Ivan Capelli. Tudo, claro, combinado com a equipe da Rede Globo. Aliás, o relacionamento e a falta de trato de Rubens com a imprensa foi um dos elementos que mais desgastaram a ele e a sua imagem ao longo do tempo. Rubens teve um grande divisor de águas no final de semana fatídico do seu acidente, o mesmo final de semana em que Senna e Roland partiam. Após ele, a cobrança em cima do piloto foi outra.
Torci muito por ele em algumas temporadas. Por coincidência, em duas ele estava com carros de cor predominantemente branca. Nos anos de Stewart, e depois no renascimento na equipe Brawn. Na Stewart (1997-1999), Rubens fez um belo trabalho. Em 1999, na terceira temporada nela, foi semelhante ao Kubica na temporada 2010. Tirou o que podia do carro, fez boas corridas e atraiu olhares de equipes mais fortes. Lembro com carinho de uma chuvosa Magny-cours, onde realizou uma corrida genial, defendendo-se de Schumacher com seu lindo Stewart de motor Ford. Era a deixa para os anos de Ferrari.
Não sei se existiu mesmo a proposta da McLaren em 1999, preterida em função de um acerto com a equipe italiana. Tenho para mim que os longos seis anos pilotando o carro vermelho foram uma sucessão de erros, iniciados nesta sua escolha, que lhe impossibilitou de juntar um título ao seu currículo. Erro que somado aos difíceis anos de Honda, depois, apenas por muita força e amor ao esporte por parte dele, não o tiraram da categoria.
Torci muito por Rubens também na temporada em que renasceu como piloto. No carro que seria (seria?) de Bruno Senna, voltou a ter condições de disputar um título mundial. Ganho no fim pelo inglês J. Button, graças ao seu desempenho superior na primeira metade da temporada de 2009, onde o difusor traseiro fazia toda a diferença no desempenho dos carros brancos.
Atualmente Rubens encontrou um porto seguro na Williams. Vem fazendo uma temporada dentro das possibilidades do carro, deixando seguidamente o seu companheiro de equipe para trás, e, incansável, ja projeta um 2011.
Quem sabe o destino não lhe dá uma Williams-Renault para pilotar. Tal e qual a parceria vencedora quando dos seus primeiros anos dentro da Fórmula 1.
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Três melhores temporadas
Em 2004, com a F2004, foram 114 pontos, terminando o campeonato na segunda posição.
Em 2002, com a F2002, foram 77 pontos, terminando o campeonato na segunda posição.
Em 2009, com BGP001, foram 77 pontos, terminando o ano como terceiro no campeonato.
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O pior carro
O belo Honda RA107 não marcou nenhum ponto ao longo da temporada de 2007
Bibliografia para este post:
Interessante notar que, assim como na vida pessoal, e, em nossa vida profissional, escolhas tendem a mudar o que nos parecia certo. Faltou um pouco de atitude, seja por conveniência, era uma Ferrari (grande bosta) ou ingenuidade, mas numca por falta de capacidade. O cara é um baita piloto.
Muito bom seu texto. Parabéns.
Senna pode ser nosso melhor piloto, mas eu cresci vendo Barrichello correr e sempre acreditei nele. Acompanhava bem a F1 na época dele na Stewart e depois na Ferrari. Ele fazia mágica com aquele carrinho branco!!