Os anos 20 trouxeram um espírito de retomada de caminhos após a primeira grande guerra. A consolidação da revolução industrial chegaria à Europa por meio de novas tecnologias, ferramentas e mudanças na relação empregado/empregador.
O mundo mudava rápido e a população observava, surpresa, os passos largos da evolução das máquinas que não tardariam em tornarem-se ferramentas úteis no cotidiano urbano. Como sempre, a guerra trouxe investimentos maciços no desenvolvimento e no aperfeiçoamento de tecnologias, e, com o fim dela, era chegado o momento de transformar essas tecnologias em fonte de renda. As grandes companhias olhavam para frente.
A Primeira Guerra Mundial foi um período de crescimento para a italiana Fiat. Fundada em 1899 por Giovanni Agnelli ela produzia máquinas agrícolas, mas rapidamente entrou no ramo de locomotivas. Com a chegada do conflito, em 1914, o leque de produtos estendeu-se para veículos bélicos, ambulâncias, motores de submarinos, metralhadoras… A empresa cresceu e com o final do conflito era hora de fixar-se como uma forte indústria de vanguarda na Europa.
O primeiro passo foi a inauguração de uma nova, e futurista, fábrica. No dia 23 de Maio de 1923, Lingotto, em Turim, uma planta revolucionária ganhava vida. O esguio prédio projetado por Giacomo Matte Trucco, com 5 andares, 507 metros de comprimento e 24 metros de altura, comportava não só a maior fábrica de automóveis na época, como também a mais funcional linha de montagem.
A criação dos modelos tinha início no primeiro andar, onde as matérias primas eram trabalhadas, prosseguia nos andares superiores, onde os veículos ganhavam forma, e acabava na inimaginável pista de testes localizada no terraço.
Em pouco mais de um quilômetro de comprimento, duas retas eram ligadas por curvas inclinadas; podia-se ali, no alto da fábrica de Lingotto, testar os novos carros sem que eles fossem vistos pela concorrência, além de certificar a qualidade dos modelos regulares de produção e até promover inusitadas, e perigosas, corridas.
Lingotto transpirava futurismo, e um dos seus filhos mais marcantes foi também um dos maiores devaneios da montadora. Em abril de 1954, um som de avião invadia a pista de testes do terraço do complexo, era o Fiat Turbina que nascia depois de seis anos de gestação.
O carro conceito, criado por Dante Giacosa e pelo engenheiro Luigi Fabio Rapi, trazia três turbinas a gás trabalhando juntas para impulsionar um elegante corpo streamline, montado sobre uma estrutura tubular, em altas velocidades. Era um estudo para ver se com os veículos terrestres ocorreria o mesmo fenômeno dos aviões, onde os tradicionais motores eram rapidamente substituídos pelas modernas turbinas.
No Aeroporto Caselle, de Turim, os 300 cavalos de potência, auxiliados pelo baixíssimo coeficiente aerodinâmico de 0,14, levaram o protótipo para além da barreira dos 240km/h. Mas o grande aquecimento dos componentes internos, a inércia da turbina nas desacelerações, o imenso consumo de combustível e de emissão de gases foram apenas alguns dos problemas que a experiência com o Fiat Turbina mostrou, e que inviabilizaram a sua sequência. O futuro dos automóveis estaria por muito tempo ligado aos tradicionais motores de pistões e câmaras de combustão interna.
Após algumas aparições públicas, em Monza inclusive, o Turbina foi aposentado para hoje ser exibido com orgulho no Museu do Automóvel de Turim, local onde nasceu e onde reside o incrível complexo de Lingotto, fábrica que cumpriu seu papel até ser fechada em 1982 e transformada, posteriormente, em um celebrado multi-espaço cultural, com hotéis, restaurante e espaços comerciais.
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Blibliografia para este post:
http://en.wikipedia.org/wiki/Fiat_Turbina
http://www.hemmings.com/hsx/stories/2006/01/01/hmn_feature29.html
Não conhecia o conto, tô maravilhada.
Fantástico o lugar. Já tá anotado no moleskine de viagem.
sensaional.
bjo bjo
Que pena ela ter fechado, perdeu o cheiro de oleo e gasolina…
Será que na pista encima da fabrica não ocorrem corridas de fim de semana??
Assim como deu vontade na Ingryd de visitar, deu em mim também, pramim a solução é visitar a Fabrica em MG Betim, é mais pertinho vice.
Então a FIAT foi a primeira a construir um carro com turbina semelhante aos aviões a jato? Não sabia. Como pode ser? E isto em 1954?
Olha, eu acho os motores da FIAT muitos bons, me desculpem quem gosta da Volks, mas a Volks só fez nome em cima dos motores da FORD, com o Gol por exemplo, os 1.0 e 1.6 eram motor FORD, os motores da Volks bebiam muito. Hoje a Volks é até campeã de reclamação (recal). Não é a toa que a FIAT dominou o mercado. Mas os carros da FIAT também tem problemas, os motores da FORD são muito bons, as peças da FORD são caras, infelizmente. Acho que com tantas empresas e tecnologia, o grupo da FIAT poderia fazer carros ainda melhores
Olha Juvenal. Eu não diria que a FIAT foi a primeira pq na américa já haviam surgido protótipos tão futuristas quanto (Ford, Chrysler…) que utilizavam novas tecnologias e o mesmo modo de propulsão. Também não advogaria afirmando que a Volks “só fez nome em cima dos motores da FORD”… pois a Volks fez seu nome mundialmente com outro veículo e seus derivados…. e não precisa pedir desculpa quando expor a sua opinião, não está atingindo ninguém ao fazê-lo. Abraço.
infelizmente o conceito dos carros a turbina sempre foram sub utilizados, a chrysler testou por decadas , mas hoje este mesmo motores sao usados para geraçao de energia, e o problema do nox foi resolvido pelo adblue o mesmo aditivo usado nos motores ciclo diesel para eliminar o nox. as turbinas a gas regenerativas sao usadas em algums caminhoes,onibus e um esportivo este ultimo e um prototipo e os tres sao hibridos.
Fantástico…
Importante reportagem.